quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O Poder do Povo

O Poder do Povo



A democracia é um sistema complexo, dotado de organicidade própria a cada país, havendo uma evolução histórica de seus valores, tradições e práticas. Estas mudanças ao longo do tempo, se traduzem em valores da sociedade, que precisam ter espaço e acessibilidade para levar adiante as almejadas mudanças que surgem, inerentes ao processo dinâmico de evolução do sistema.

Para dirigir essa máquina, pode-se ser pensado que este sistema funciona como um organismo vivo, onde o poder do Estado seria o Cérebro, com capacidade de próprio-cepção (sentidos), planejamento (capaz de racionalizar na 4a dimensão) e tomada de decisão; o coração seria o trabalho do povo, onde todos estariam bombeando para um único motivo: manter a colônia viva, funcionando, com o bem-estar que nossas tecnologias atuais possam permitir, estendidas a todas as operárias por igual.

O sistema nervoso periférico, seriam as secretarias, ministérios, agências, responsáveis a conduzirem as informações para os centros de tomada de decisão (órgãos, mãos e pés) para que o mesmo objetivo comum continue a ser executado: manter o super-organismo vivo, em equilíbrio, em sua melhor forma que a disponibilidade de recursos e tecnologias possam permitir.

Falando em recursos, estes serão carregados através de nosso sistema de transporte: rodovias de veias e artérias, que se capilarizam, trocam energia, doam e recebem matéria e rejeitos, em um sistema de logística reversa facilitado, cooperativo entre os setores.

Já o sistema que nos abastece de energia, nossa alimentação é vinda primordialmente de maneira exógena, temos um filtro seletivo, chamado boca, pelo qual podemos selecionar o que deve entrar conforme necessidades: açúcares para uma dada tarefa, suplementação de proteínas em esforço físico excessivo, etc.

Este fenômeno pode ser entendido também como quando vendemos nossas reservas de minério para investir em educação, saúde, transporte, ou seja, tudo aquilo que, conforme o aumento da complexidade de nossa sociedade precisamos criar como subsistema para nos mantermos vivos. Colocarei que o sistema metafágico gastro-intestinal seja a economia, onde transformamos matéria prima bruta em outras ações, invenções, priorizações; Podemos ter que fazer muito cocô para limpar tanta sujeira, podemos acumular em porções de banhas e barrigas locais, caso o sistema esteja produzindo um excedente não metabolizável, que não está sendo distribuído por igual à algumas células, ou que poderiam estar até a criar novos sistemas, como explorando outros super-organismos (planetas).

A cerne deste ensaio é que concebamos a vida numa perspectiva orgânica. Assim, o que temos é que nossa colônia deve se manter viva, funcionando da melhor maneira possível conforme os recursos disponíveis no momento.

Neste princípio, precisamos de um sistema saudável, auto catalítico, capaz de se abastecer e se perpetuar. Para este fim, existem os subsistemas: A economia, a política, as instituições. Entretanto, estes devem ser entendidos enquanto meio, e não enquanto fim. A finalidade é sermos autônomos, livres, saudáveis, repletos de amor, funcionais. Se não entendermos a vida nesta perspectiva, tudo o que fizermos será um erro vital ao sistema (planeta terra).

Estes subsistemas devem trabalhar para o fim, o objetivo comum.

As instituições como concebidas para alimentarem um subsistema, o econômico, desregulou o metabolismo do sistema, estamos oscilando longe do centro, entre hipertireoidismo e hipotireoidismo: uns metabolizando muito, outros nada.

Para voltarmos a termos saúde, precisaremos encontrar um meio de voltar à homeostase, para regularmos nosso funcionamento. Esta homeostase, só poderá ocorrer com auto-controle. Sim, a palavra controle pode assustar. Mas ela existe de uma forma ou de outra. a questão é se vamos optar que tenhamos mecanismos de controle social, ou econômicos. Se iremos trabalhar para o super-organismo funcionar bem, ou para o subsistema assumir enquanto sistema e ideologia?

O problema todo do sistema portanto pode ser entendido como uma falha de auto-controlo, auto-gestão, ou ainda, dependência de instituições corruptas, a começar pelo subsistema economia.

O subsistema econômico tem poder para comprar células que são altamente mutáveis. Os linfócitos e células de defesa, também conhecidos como polícia. Estas tem o poder de expulsar do sistema aquilo que é subversivo ao subsistema, pois este pretende se tornar sistema.

Assim, escravizamos o superorganismo, que antes era livre e podia só depender da luz do sol e das águas da chuva, para amarrá-lo à correntes de cumprimento cada vez mais curto e calibre cada vez mais grosso. Saímos de um sistema de abundância, para um sistema de escassez relativo.

Cada país portanto, precisa rever a apropriação de seus recursos, para se tornar menos dependente do subsistema econômico, e mais da gestão desta abundância, que pode vir a se tornar escassez.

A apropriação privada dos recursos e dos serviços com fins ao lucro, é uma forma de cobrar duas vezes o trabalho perpetrado pela sociedade: uma através do trabalho em si para este sistema, a outra da tarifa, taxa, imposto ou pedágio do bem econômico.
Uma estrada com pedágios que não retorna este "lucro" no próprio sistema, se voltará a uma outra atividade que retorme mais lucro, e depois a outra que retornará com mais lucro, criando aquela velha máxima: privatiza-se o lucro, socializa-se os prejuízos. Quem ganha e quem perde deve ser uma pergunta norteadora deste consórcio público-privado.

Este sistema descontrolado está a pilhar e varrer da terra infindáveis riquezas com impactos sociais e ambientais negativos, somente para seu auto-sustento, dando ora aqui ora ali uma mordomia com relativa acessibilidade, como uma casa ou um carro a um grande número de pessoas (classe média). Mas lembrem-se, agora estamos a trabalhar para um subsistema, não mais para o super-organismo.

Isto, obviamente se traduz em custos, ou falta de saúde para um sistema doentio. Isto é experimentado pela poluição das águas, eliminação da biodiversidade, violência, seres humanos cada vez mais doentes e dependentes de próprio subsistema de escravidão.

A crise pela qual passamos, é que estamos envoltos em um névoa de ilusão material, que nos condicionou a um prazer doentio, por que não dizer, sado masoquista, onde não mais nos enxergamos como parte de um todo, mas apenas mais uma engrenagem determinista na roda da economia. Está na hora de ser aquela porca desajustada… exercer nosso livre arbítrio. Não somos engrenagens. Não trabalhamos para o tempo dos sistemas econômicos, para o interesse privado, para a fortuna pessoal de algum
patrão.

Nós somos parte deste super-organismo. Nós somos este sistema. Se este sistema está doente, nós estamos doentes, como podemos então estar satisfeitos? É hora de corrigirmos nossa postura diante do mundo. A grande revolução virá primeiro em cada célula que se perceber. após isto, é preciso acordar, para se desamarrar e se libertar o máximo enquanto for possível. Então estão realizadas as condições mínimas necessárias para que nos libertemos enquanto livre-organismos. Em comunidade, em comunhão com um bem universal. Eliminar eventuais patógenos do sistema através do trabalho em comunhão, socialmente construído, com responsabilidade, diminuindo a entropia do sistema ao máximo quanto for possível, para que não tenhamos que arcar no futuro com maiores externalidades, maiores sofrimentos, quando já não tivermos mais o alimento sadio que outrora nos foi dado para aqui nos educarmos e evoluirmos.

De Gabriel Ferreira de Azevedo Clemente
"deveria estar estudando, mas estou criando."